Qual a sua sensação quando está diante de uma situação onde é necessário escolher entre a opção A, B ou C? Você consegue a melhor opção e segue a sua vida como se nada tivesse acontecido? Ou fica pensando se essa foi realmente a melhor opção, ou ainda, se é a melhor opção entre as melhores? Se a segunda opção é a sua escolha saiba que ela é mais comum do que parece e se tornou até objeto de estudo: o paradoxo da escolha.
O que é o paradoxo da escolha?
O conceito de paradoxo da escolha foi pensado pelo psicólogo americano Barry Schwartz e demonstra como nosso comportamento é afetado pela liberdade e as escolhas. Segundo o autor, nossa sociedade vive um paradigma onde a liberdade de escolha é central. Ou seja: temos a oportunidade de escolhermos o que quisermos e o que é necessário para nossa sobrevivência.
Porém, o que parecia o cenário perfeito para a humanidade, pode estar se tornando um pesadelo, já que estamos precisando escolher uma entre muitas opções para alcançarmos um bom nível de satisfação.
Para você ter uma ideia, há alguns anos, nossa sociedade tinha apenas algumas escolhas para fazer. Se íamos comprar um telefone celular haviam, no máximo, três opções. A razão pela qual tudo era melhor antigamente, é que quando tudo era pior, havia a possibilidade das pessoas terem uma surpresa agradável.
Hoje em dia, no mundo em que vivemos, Barry nos conta que o melhor que podemos esperar é que as coisas sejam tão boas quanto esperamos. Por isso, você nunca terá uma surpresa, quiçá uma surpresa agradável porque suas expectativas são muito altas.
Você já deve estar percebendo que as coisas estão ficando excessivas, pois mesmo que tenhamos a liberdade de escolher, não estamos tendo a capacidade cognitiva de selecionar aquela que acreditamos ser a melhor, já que existem muitas opções melhores.
Estamos sempre procurando o mais e o melhor. E foi isso que chamou a atenção do psicólogo e vamos apresentar para você no decorrer do texto.
As características do paradoxo da escolha
Imagine agora que você está em um supermercado realizando as suas compras mensais. Você olha para a prateleira com não apenas esse produto, mas vários outros. No entanto, mesmo assim você está pronto para selecioná-los. Eis, então, que uma sensação incômoda chega até você: será que o produto que escolhi é o perfeito?
Provavelmente, a sua resposta será “Não, esse não é perfeito.” Não fique preocupado se essa for a sua decisão, pois o autor também percebeu que os participantes do estudo tinham a mesma reação durante o seu processo de escolha.
Insatisfação
Quando damos conta de que a nossa escolha não foi a melhor, o sentimento gerado em nós é de insatisfação, pois são tantos itens, tantos modelos que aquela necessidade inicial que você tinha ao escolher o determinado produto acaba se transformando em algo maior e com mais necessidades.
Afirma o autor: “Quanto mais opções, mais fácil de se arrepender com qualquer coisa decepcionante na escolha.”
E é simples entender o motivo. Quanto maior o número de opções, maior é a sua expectativa diante da escolha, já que se você escolheu esse é porque é realmente o perfeito. Porém, quando utiliza o produto e percebe que ele não é bem assim, a frustração se instala e as consequências para seu cérebro podem ser extremamente danosas.
O segredo da felicidade é a baixa expectativa. Não entenda isso como uma motivação para não buscar o melhor em sua vida. Apenas, tente perceber que manter uma expectativa elevada diante da escolha de um produto ou bem de consumo, ou, até mesmo, de um curso universitário, pode não ser o melhor caminho para a sua felicidade. Vamos entender o porquê disso a seguir.
Perceber que a vida é uma questão de escolha é uma tarefa diária. Em tudo que olhamos e fazemos precisamos escolher. O próprio ato de olhar ou não é um processo de escolha. Não há como fugir.
Porém, o problema não está na escolha, e sim, na quantidade excessiva de opções para escolher e em nossa constante necessidade de realizar mecanismos em situações corriqueiras.
Efeitos do paradoxo da escolha
Segundo Barry, toda essas escolhas têm características peculiares, e que causam efeitos negativos em nós que precisamos ficar atentos:
- Paralisia: Com tantas opções para escolher, as pessoas acham muito difícil se decidir e acabam não sabendo o que fazer diante das opções. Ou seja, acabam paralisadas.
- Frustração: Quando conseguimos superar a paralisia e tomar uma decisão, acabamos insatisfeitos com o resultado da escolha, do que se tivéssemos menos opções pra escolher.
- Custo da oportunidade: Com diversas opções para escolher, temos que escolher uma opção entre várias opções. Se não temos como escolhermos um produto perfeito, vamos ter que escolher um item por suas qualidades, com a condição de abrirmos mão dos benefícios do outro item.
- Aumento das expectativas: Após um processo de escolha desgastante, queremos ter o produto perfeito, pois se nós escolhemos ele tem que ser o melhor. Assim, nossas expectativas sobre a escolha tendem a aumentar quando temos de escolher entre várias opções.
- Comparação: É a velha história de sempre acharmos que a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa. Estamos o tempo todo nos comparando com nossos amigos, colegas de trabalho, familiares etc. E na hora de escolher um produto não é diferente.
- Adaptação: Hoje escolhemos o produto B por julgarmos ser melhor que o produto F. Porém, se amanhã o fabricante lançar um produto F atualizado, com mais funções e opções à sua escolha, provavelmente você terá dúvidas sobre a decisão que tomou hoje. Nossa necessidade de ter sempre os produtos mais atualizados do mercado pode nos prejudicar de certa forma.
O segredo da felicidade — é pra isso que vocês vieram — o segredo da felicidade é ter baixas expectativas.
Rotina
Se você parar para pensar, durante o seu dia, você faz mais escolhas do que imagina. E isto acaba deixando você bem confusos, não é? Estes são sintomas claros de que existe uma multiplicidade da escolha em sua vida. Mas, o que vem a ser este paradoxo?
Apesar de acreditar que seja interessante exercer nossa liberdade de escolha, ele acredita que o alto volume de opções de escolha está tornando as pessoas menos felizes e mais ansiosas, deixando-as com mais dúvidas e, consequentemente, com maiores frustrações.
Porém, ter muitas opções de escolha produz paralisia e não sensação de liberdade. E mesmo se vencermos a etapa da paralisia e conseguirmos realizar a escolha, nós ficaremos menos satisfeitos com esta opção do que se tivéssemos tido menos opções para escolher.
Quanto mais soterrados estivermos de opções para escolher, mais emocionais se tornarão nossas decisões, com base em marcas, recomendações, slogans marcantes, lembranças afetivas etc. Em meio a uma tomada de decisão mais complicada, dada a enorme variedade de itens à escolha, nosso lado racional acaba ficando em segundo plano.
A criação do hábito
Você já percebeu como o ato de escolher alguma coisa leva você a tomar decisões cada vez mais complexas? Se pararmos para analisar nossa rotina, todos os nossos comportamentos acabam tornando-se um hábito — pessoal ou profissional — que até gostaríamos de mudar, mas, para isso, precisamos entender o loop do hábito que faz com que façamos sempre as mesmas coisas. E se a angústia que sentimos quando temos a liberdade de escolher entre várias opções, pudesse ser dirimida a partir da compreensão do hábito? Quais as soluções possíveis para os participantes? Vamos descobrir.
O loop do hábito
Um hábito é qualquer escolha que tomamos em determinado momento de forma deliberada, ou seja, esse comportamento deixa de passar por nossa região cerebral da razão, e continuamos fazendo ele.
Para Charles Duhigg, autor do livro O poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios todos os nossos hábitos funcionam em formato de loop, e funcionam da seguinte forma como apresentamos nessa imagem:
- Deixa: estímulo que manda o cérebro entrar em modo automático, e indica qual hábito deve ser usado;
- Rotina: é a forma de executarmos a deixa para não nos sentirmos decepcionados;
- Recompensa: ajuda o cérebro a saber se vale a pena memorizar este loop para o futuro.
Entender como esses três passos funcionam é a chave para mudar aquilo que não funciona na sua rotina.
Por quê desenvolvemos os hábitos?
Nossas ações diários já se tornaram um hábito e desde que amanhecemos realizamos ações que não temos mais motivos para perguntarmos o porquê fazemos. Por exemplo, ao acordar pela manhã você, provavelmente, toma café da manhã, escova os dentes após a refeição, toma banho, vai ao trabalho, almoça e retorna ao trabalho.
Faça um exercício após a leitura desse texto: perceba como a sua rotina é influenciada pelos hábitos. Você vai se surpreender como várias atividades que você repete não tem um sentido aparente, mas são feitas mesmo assim.
E isso acontece por um motivo: porque todas elas são padrões de comportamentos que repetimos constantemente. E quanto mais fazemos essa repetição, mais assimilamos os hábitos e criamos um processo de aprendizado.
Se essas ações inconscientes são repetidas de forma automática com o tempo, você concorda que elas impactam diretamente nosso cotidiano? Por isso, se percebemos como desvendar esses hábitos e mudarmos, podemos alterar até a forma que escolhemos as coisas diante das opções que temos.
Ou seja, podemos não cair no paradoxo da escolha. Mas para entender nossa hipótese, precisamos entender a possível relação entre o hábito e as nossas escolhas.
A relação entre as escolhas e o hábito
Para mudar o seu hábito você já percebeu que é necessário entender o loop do processo e que para mudar é preciso que você perceba completamente o mecanismo que leva você a fazer as coisas.
Dessa vez, vamos entender como esse mecanismo do hábito pode ser uma questão de escolha, ou como você pode não entrar numa zona de frustração ao necessitar decidir sobre algo.
Diariamente, nossas rotinas vão sendo incorporadas, criando em nós hábitos. Isso você já sabe. Mas o que você precisa saber é que esses hábitos podem ser uma questão de escolha.
Tudo parece simples até o momento em que algo negativo acontece; o seu hábito tornou-se negativo e gera em você, por exemplo, ansiedade, aumento da expectativa, frustração ou arrependimento.
Exemplo
Veja, por exemplo, o paradoxo da Escolha que estamos abordando. Apesar da liberdade que toda pessoa tem diante da possibilidade de escolher, não é necessariamente um sentimento bom que surge desse processo.
Mas, o quanto isso é um hábito que está internalizado em nós e que precisamos mudar?
Seguindo o modelo de três instâncias da criação do hábito, com uma Deixa, uma Rotina e uma Recompensa, vamos pensar em um cenário onde esse paradoxo pode ser aplicado. Leia abaixo:
- Deixa: Comprar um chocolate;
- Rotina: Ficar em dúvidas em relação às várias opções de chocolate;
- Recompensa: Frustrar-se com a escolha que deveria ser perfeita.
Até que ponto esse loop do hábito pode estar corroborando para uma jornada de frustração na hora de escolher entre A ou B? Por não podermos eliminar um hábito, apenas mudá-lo, não é possível impedir a frustração após uma escolha, já que escolhendo deixamos de ter um outro algo.
Porém, a questão que se coloca, e que esse texto deixará na forma de insights dos leitores, é saber se o hábito ao ser mudado, também pode nos tirar do paradoxo de escolher entre dua coisas e ficarmos frustrados com nossa decisão.
Transforme o seu hábito
- Identificação: Perceba o hábito que você quer mudar. Ao entender qual recompensa está sendo buscada diante de um tal comportamento, é fácil criar um novo hábito transformando a rotina. A deixa e a recompensa não são eliminadas o que deve ser transformado é a rotina.
- Alternativa: O hábito não pode ser erradicado, por isso, encontre uma rotina alternativa para o que você faz atualmente e tente alterá-lo.
Agora que você já sabe como os hábitos são formados e como o paradoxo da escolha que você está fazendo diariamente pode causar uma frustração, o próximo passo é resolver o problema da maneira correta.
Assim como um hábito não muda de repente, o novo que você criar terá uma disputa com o antigo que ainda existe, restando a você escolher qual é o melhor comportamento para alcançar o que se deseja.
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👉 Artigo publicado originalmente por CIS Assessment
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